15/04/2013
notícia baseada acervo digital Veja de 12/04/2013
Um dos principais motivos pelos quais ouvir música é uma atividade prazerosa é o fato de que ela está relacionada aos sentimentos e memórias de cada um. Porém esse fato não explica o processo que leva uma pessoa a gostar ou não de uma música quando a ouve pela primeira vez. Um estudo publicado na ultima sexta-feira na revista Science mostra que a memória musical, em conjunto com complexas regiões do cérebro responsáveis pela identificação de padrões, ajuda a determinar a reação de cada um diante de uma música desconhecida.
Os pesquisadores utilizaram imagens de ressonância magnética para observar a atividade cerebral de 19 voluntários ao escutar trechos de músicas que eles nunca tinham ouvido antes. Para medir de forma objetiva se eles gostavam ou não das músicas, foi utilizado um programa de computador semelhante ao iTunes, software da Apple que permite ouvir e comprar músicas. Dessa forma, os participantes ouviam apenas trechos de músicas e, caso desejassem, podiam comprar a faixa completa usando seu próprio dinheiro.
A área do cérebro que apresentou maior relação com a decisão de comprar ou não uma música é o núcleo accumbens, região do cérebro relacionada à criação de expectativas e ao prazer. Quanto mais intensa a atividade observada nesta área cerebral enquanto a pessoa ouvia a música, mais ela se mostrava disposta a pagar pela canção.
Isso ocorre porque o cérebro está constantemente criando previsões. E, de acordo com a pesquisa, é isso que torna a música atrativa. “A música é uma recompensa intelectual, porque está relacionada à habilidade de identificar padrões e fazer previsões”, escrevem os autores.
Um exemplo dessa antecipação do cérebro é a sensação boa que acomete alguém que ouve os primeiros segundos de sua música favorita. Porém o cérebro faz previsões mesmo diante de uma música completamente desconhecida. Nesse processo, o núcleo accumbens trabalha em conjunto com o giro temporal superior, área do cérebro relacionada à memória musical.“Essas previsões são expectativas de como os sons devem se desenvolvem ao longo da música, e são baseadas na experiência musical de cada um” disse Valorie Salimpoor, pesquisadora da Universidade McGill e integrante do grupo de pesquisadores, ao site de VEJA. Dessa forma, uma pessoa que ouve muito jazz poderá fazer previsões melhores sobre uma música desse estilo do que uma pessoa que não ouve esse tipo de música. “Frequentemente, quando o que se ouve não é como a pessoa esperava, ela tende a não gostar da música, e a atividade observada no núcleo accumbens é menos intensa”, afirma Valorie.
Para os autores, o estudo representa os primeiros passos para entender como estímulos estéticos, como a música, que não têm uma relação direta com a sobrevivência, também podem ser prazerosos para o homem. Além disso, a pesquisa também contribui para o entendimento da razão pela qual as pessoas apresentam reações tão diversas à música ou à arte de forma geral. “Todas as músicas que uma pessoa já ouviu no passado determinam quais músicas ela vai gostar hoje. Isso ajuda a entender por que as pessoas gostam de músicas diferentes”, afirma Valorie.