25/03/2014
Eventos planetários como a Copa da FIFA, de intenso contato entre diferentes nacionalidades, dão espaço a vexames motivados por falsos cognatos, palavras de um idioma que se confundem com as de outro, mas de sentido diferente. O Brasil até já celebrou esse tipo de curto-circuito linguístico. Em 13 de julho de 2007, na abertura dos XV Jogos Pan-Americanos, no Estádio Olímpico do Rio de Janeiro, o mexicano Mario Vázquez Raña, presidente da Organização Desportiva Pan-Americana, iniciou sua fala com uma oração algo hiperbólica: “Hoy es una realidad lo que antes no pasaba de ilusión…” (Hoje é uma realidade o que antes não passava de ilusão…). Para dar gravidade à frase, Raña fez pausa dramática após a primeira palavra: hoy… dando por simpatia o que era só uma tomada de fôlego: De pronto, os 90 mil espectadores do estádio responderam uma só voz, “Oooooooooi!!!”. Na língua portuguesa, diferentes são os falsos cognatos propriamente ditos, isto é, os termos de origens diferentes que, por ação do acaso, assumiram formas fonéticas ou gráficas parecidas e pode ser a causa de embaraço em outro idioma. Nada impediria que a presidenta Dilma, por exemplo, oferecesse a um candidato de esquerda nas eleições da França todo seu soutien. A palavra francesa, que por aqui nos legou o “sutiã”, significa qualquer tipo de suporte, como é o caso do apoio eleitoral. Chute, em francês, é o que chamamos “tombo”. Já nosso “chute” é coup de pied. Passe significa “canal”, mas pelotenão é bola de futebol, mas qualquer bolinha (a de futebol é ballon). Quanto maior a afinidade entre os idiomas, maior a probabilidade de falsas semelhanças como essas. Os falsos cognatos têm ao menos uma grande função linguística. Eles são, no mínimo, lembretes ambulantes de que, se quisermos, podemos ampliar o entendimento sobre as mudanças de forma e significado nas línguas. Principalmente, testam nossa abertura a outras culturas, nossa disponibilidade para relativizar os costumes e para provar que é preciso conhecer o outro se quer realçar a nós mesmos.