03/10/2011
Estudo publicado na ‘Science’ analisa postagens de ‘Twitter’ para avaliar o ritmo diário de variação de humor de milhões de indivíduos dos cinco continentes. O início e o fim do dia são apontados como os momentos de manifestações mais positivas.
Para alguns o Twitter é uma ferramenta de comunicação com os amigos. Para outros, é instrumento de trabalho, graças a seu potencial de divulgação. Já para pesquisadores, o site em que os usuários postam frases de até 140 caracteres sobre qualquer assunto pode ser um celeiro de informações preciosas sobre o comportamento das pessoas.
A partir da análise de frases de 2,4 milhões de pessoas de 84 países de todos os continentes, postadas no microblogue entre fevereiro de 2008 e janeiro de 2010, Scott Golder e Michael Macy, do Departamento de Sociologia da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, mediram a variação de humor desses indivíduos ao longo do dia. A experiência foi relatada em artigo publicado na Science desta semana.
linguagem para medir emoções positivas – como entusiasmo, alegria – e negativas – medo, raiva etc. – nas palavras utilizadas nos tweets. A análise, que só considerou postagens feitas em inglês, mostrou que as pessoas acordam de bom humor, mas isso vai mudando à medida que o dia passa e a curva só volta a aumentar à noite, perto da hora de dormir.
Nos fins de semana, embora haja maior manifestação de emoções positivas, as variações de comportamento ao longo do dia se mantêm. A diferença é que o pico de emoções positivas acontece duas horas depois que nos dias de trabalho, provavelmente porque as pessoas acordam mais tarde.
Nos Emirados Árabes, onde a semana de trabalho vai de domingo a quinta-feira, observa-se o mesmo ritmo: a média de emoções positivas é maior nos fins de semana (sexta e sábado) e o pico nesses dias também ocorre duas horas mais tarde.
“Poderiam dizer: claro, durante o trabalho as pessoas têm menos motivos para ter alto nível de emoções positivas. Mas não é tão simples”, explicou Golder em entrevista em vídeo feita pela Science. “Afinal, a curva decrescente de emoções positivas também é observada ao longo dos dias de folga. Então há algo mais, relacionado com o ritmo do sono ou do relógio biológico, que está desempenhado um papel importante na determinação dos sentimentos.”
A mensuração do ritmo de humor é complexa e já foi buscada em diversos estudos off-line. Segundo o artigo, muitos deles acabavam sendo análises de grupos muito restritos. Mesmo as pesquisas recentes que vêm usando ferramentas de mídia social têm tido imprecisões, como colocar emoções positivas e negativas em uma mesma dimensão, quando psicólogos já convencionaram que elas são independentes e uma não tem efeito sobre a outra.
Levando isso em consideração, o estudo de Golder e Macy também avaliou o ritmo do humor em função das estações do ano e concluiu que a depressão de inverno, por exemplo, é associada à diminuição de emoções positivas e não ao aumento de emoções negativas.
Para Golder, o mais importante é ressaltar o leque de possibilidades que as redes sociais podem abrir para estudos comportamentais. “Você pode pesquisar um pequeno número de pessoas de maneira próxima, mas com esse estudo mostramos que é possível observar milhões de indivíduos em suas manifestações espontâneas, sem incomodá-los e sem induzir resultados”, explicou.
Por outro lado, os pesquisadores assumem que a dimensão on-line também é a causa das limitações do estudo. A análise lexical é limitada à expressão dos sentimentos, não à experiência. Além disso, as variações culturais e ambientais não têm como ser avaliadas, bem como características de gênero, raça, idade e condição econômica.
Ainda assim, os autores acreditam que os “padrões robustos” encontrados em diferentes países são um resultado relevante independente das variações que essas limitações possam trazer.
Helena Aragão
Ciência Hoje On-line