28/05/2012
ideologia do mercado volta-se contra o mercado
Desqualificação pessoal
Em meados da década de 1990, surgiu uma onda no setor da educação profissional que ficou conhecida pelo sintomático nome de "profissionalização".
Nessa ideologia, exacerbadamente individualista, o desemprego passou a ser responsabilidade de cada pessoa em particular, que não haveria conseguido atingir "as exigências do mercado".
Assim, para não ficar de fora do mercado, passou a valer tudo para alcançar os próprios objetivos.
Agora, esse mesmo "mercado" está às voltas com uma geração de profissionais que cresceu acreditando que isto era verdade e que nunca recebeu lições de trabalho em equipe.
O grupo é tão característico que já recebeu até um nome, Geração Y.
"Só eu"
Segundo analistas de recursos humanos, esses jovens que agora estão chegando ao mercado de trabalho são, sem nenhuma surpresa, individualistas, imediatistas e ambiciosos.
Um dos maiores problemas é que, criados pensando somente em si mesmos, é difícil conciliar seu comportamento com o trabalho em equipe das empresas.
Um estudo da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP aponta que, para as empresas, o grande desafio é aproveitar características como a rápida adaptação a mudanças e o questionamento constante aos gestores.
Ao mesmo tempo, a Geração Y precisa lidar com a ansiedade excessiva em ascender na carreira e ganhar altos salários.
Feiticeiro enfeitiçado
André Laizo dos Santos entrevistou profissionais de recursos humanos e gestores de 12 empresas de vários setores, incluindo multinacionais.
Sua conclusão é que não basta a companhia estar alinhada com os valores da Geração Y. Para lidar bem com os jovens profissionais, o setor de recursos humanos precisa estar preparado com ferramentas e programas estruturados para apoiar os gestores na condução dos jovens profissionais, considerados arredios a regras, procedimentos e hierarquias.
Por exemplo, esses jovens individualistas devem aprender a conviver com uma estrutura definida de cargos e salários, plano de carreira, avaliação de desempenho e avaliação de competências - numa palavra, precisam aprender que uma empresa é uma equipe.
Estratégias como essas podem ajudar a aproveitar pontos positivos da geração, como saber focar-se no resultado e ter compromisso com metas, dinamismo e interesse em colocar ideias e participar das decisões.
Quando mal gerenciadas, as mesmas características levam a trabalhos desenvolvidos de modo superficial, que podem deixar clientes insatisfeitos.
Sem amor à camisa
E não adianta tentar enganar a Geração Y com falsas promessas para a carreira. Quando elas não se se concretizam, os profissionais logo optam por sair da organização.
"Essa geração cresceu num contexto de muita competitividade. Desde pequenos, foram treinados para serem os melhores. Fizeram cursos de língua, intercâmbio e ingressaram em boas faculdades," diz Santos, que fez sua pesquisa em conjunto com a professora Marisa Pereira Eboli.
Essa alta qualificação, assim como a facilidade em obter informações pela tecnologia, é requerida pelas organizações, hoje inseridas num contexto que exige estruturas mais complexas.
Mas pode reverter-se em arrogância dos profissionais, que passam a se achar essenciais para o empregador e pressionam demais por desafios mais avançados, promoções e salários.
"A ansiedade em ganhar autonomia e receber bons salários é fruto do estilo de vida com regalias durante a adolescência e, em alguns casos, também na infância. É diferente das gerações anteriores, que tiveram mais trabalho para obter o básico", diz Santos.
Sem compromisso
A garantia recebida da família faz com que a Geração Y tenha menos pressa em cumprir os ritos de passagem, como entrar no mercado de trabalho e constituir família. Com menos responsabilidades, não precisam ter tanto compromisso com as organizações.
Para os entrevistados da pesquisa, a característica mais relacionada à Geração Y é o individualismo.
"Eles fazem as escolhas com base no que é melhor para eles. Se precisarem sair da organização, saem. A relação é como a de um casamento: quando não está bom para os dois lados, termina", aponta um profissional de RH ouvido pelos pesquisadores.